terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Exercício Exorcizador

 

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Molhei meu rosto. Olhei-o de volta no espelho e percebi pequeníssimas fissuras na parte superior da face, assim que deixei a escova no lugar. Estou com os cabelos maiores, e não há mais barba alguma por fazer, não gosto mais. Circulei pela cozinha e em cima da mesa ainda estava a cerveja que ganhara de Leda no dia anterior e que fiz questão de degustar até o último respingo do sabor do lúpulo.

Retorno ao quarto com uma xícara de cappuccino na mão. Vejo novamente meu reflexo, desta vez de corpo inteiro no espelho enorme que comprei, uma semana atrás. O quadro do Cristo com A Virgem, da minha irmã, dançando na parede movido pelo ventilador turvo, incitava um ruído, interrompendo o silêncio das horas e fazendo-me lembrar que já passara das tantas de dormir.

Sábado de carnaval, clima coercitivo, foi inevitável não pensar em voltar. Tentei recordar de onde parei. Acho que no meio de uma frase que simulava um ato de um conto pseudo-dramático shakespeariano. Vi que não poderia continuar dali, não havia razão. Resolvi dar-lhe um ponto e seguir o roteiro, no entanto, agregando outras temáticas ao enredo, como a rotina, foi o que pensei.

A rotina. Por mais que as coisas pareçam iguais, elas nunca são estáticas. Houve tantos atropelos, aversões, evocações, perspectivas, e outros tantos por fazer. De concluído mesmo, só o presente inútil que dei a mim de voltar a ter medo das coisas. Todavia, venho sentindo com furor a dosagem dos 21 anos e os efeitos benevolentes e contrários que vem com eles.

Não sei quanto vai durar o regresso. Será breve ou extenso? Sendo fugaz, mal dá tempo de se expor, logo não se faz necessária a defesa. Por outro lado, a continuidade requer o exercício, que acarreta o aprimoramento. Num, eu me escondo, noutro eu alforrio, em partes, os fantasmas. Um atrai, o outro excita. Bom mesmo seria permear pelos dois. Depois da excitação seguida da atração, alcançar o regozijo, excretando o mal advindo da desolação, exorcizando assim o rancor resultante das perturbações.

Sem veemência a nada, por enquanto, vou só mantendo meu bom rancor, pois sem a velha animosidade o vigor expira...

E tomando o meu café com leite, que neste exato momento é o que me conforta e me faz companhia.

 

Fev/2009

Um comentário:

Gil Bandeira disse...

Então Lula como sempre consegues escrever muito bem em palavras o que estás sentindo. Mas confesso que não entendo totalmente a profundidade de tudo o que queres transmitir. Mais o blog ta ótimo e ainda espero ver por aqui os seus "desabafos" de bons momentos em sua vida...

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